POR UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA




Por: Jorge Schemes

Gonzaguinha – É
É...a gente quer valer o nosso amor; a gente quer valer nosso suor; a gente quer valer o nosso humor; a gente quer do bom e do melhor; a gente quer carinho e atenção; a gente quer calor no coração; a gente quer suar mas de prazer; a gente quer é ter muita saúde; a gente quer viver a liberdade; a gente quer viver felicidade. É...a gente não tem cara de panaca; a gente não tem jeito de babaca; a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela. É...a gente quer viver pleno direito; a gente quer viver todo respeito; a gente quer viver uma nação; a gente quer é ser um cidadão. É...

A pergunta que deve ser feita primeiramente é: "o que de fato desejamos?" Será que de fato desejamos amor, saúde, liberdade, felicidade, direitos, respeito e cidadania? Há uma manipulação dos nossos desejos por parte da mídia. A lógica capitalista coloca o "ter" em prioridade. Há uma coisificação dos nossos mais íntimos desejos, os quais são transformados em mercadorias de consumo. Por exemplo, no lugar da felicidade é colocado um carro zero, no lugar do amor e da afetividade o consumo desenfreado. "Ter" e não "ser", esse é o princípio do capitalismo. Por essa razão, faz-se necessário primeiramente uma reflexão sobre o que desejamos de fato. Partindo disso, será possível identificar necessidades reais e estabelecer metas e ações para realizá-los. Também é pertinente refletir no significado do sonho e da realidade, afinal, o que é o sonho? O que é a realidade? 

Penso que o sonho acordado é necessário, pois sonhar é desejar, é ter esperança de uma realidade utópica. A utopia não é de todo negativa, pois nos dá esperança, assim, há um círculo vicioso entre sonhar e cair na real, ou seja, o sonho alimenta a esperança, e esta produz a energia que nos move em direção a outra realidade possível. Portanto, as nossas ações devem estar ancoradas em sonhos constantes, pois parar de sonhar significa dogmatizar as ações. O dogma não promove a mudança, pois é sempre do mesmo jeito, assim, pessoas que não sonham não podem mudar a sua realidade, pois vivem numa mesmice dogmática, fazem sempre do mesmo jeito e pensam sempre da mesma maneira. Para quebrar com este paradigma o único instrumento que pode ser usado é a educação, mas ela mesma pode ser um dogma, por isso faz-se necessário um novo paradigma na educação. Este novo paradigma deve ser norteado pela liberdade e pela crítica, pois uma educação libertária não reproduz a ideologia dominante e não subordina o pensamento das pessoas, mas ensina a pensar e acreditar nos sonhos como ponto de partida das transformações. Também ensina a agir, pois um sonho sem ação é apenas um sonho. 

Ficar sonhando e não agir é viver numa eterna utopia, num eterno devir. Temos o poder para alterar a realidade, ao mudar primeiramente a maneira de pensar sobre a realidade. Na física quântica, na microfísica, no mundo das moléculas e dos quantas, isso é uma possibilidade real, pois a realidade vai muito além da concepção dualista e psicofísica de Descartes, ou mesmo dos princípios newtonianos da física clássica. A realidade na perspectiva quântica está sujeita a incertezas e improbabilidades, pois é relativa. Isso nos permite pensar na realidade como um conjunto de fatores não isolados, mas interligados. A realidade fragmentada é percebida como tal por causa do paradigma moderno da ciência, das especializações, que nada mais são do que conhecimentos específicos sobre o todo, sendo que, podemos defini-la da seguinte maneira: "especialização é saber cada vez mais a respeito de cada vez menos", a regra é: quanto mais especificidade, mais ignorância do todo. 

Portanto, deixar de ver ou ter a percepção do todo, ou ainda deixar de querer vê-lo é um perigo. Pois os princípios de todo fundamentalismo estão enraizados nesta visão fragmentada da realidade. Deste modo, só é possível alterar a realidade, quando desejamos de fato alterá-la, primeiramente pelo pensamento, depois pelas palavras, as quais devem conduzir a ações concretas. Há um ditado budista que diz que a nossa realidade e tudo o que acontecerá conosco inicia-se em nosso pensamento. O ditado diz o seguinte: "cuide dos teus pensamentos, pois eles se transformam em palavras, ou seja, eles se materializam, pois tanto os pensamentos quanto as palavras são ondas de energia, (dentro do princípio da mecânica quântica isso é fato); cuide das tuas palavras, pois elas se transformam em ações; cuide das tuas ações, pois elas se transformam em hábitos, cuide dos teus hábitos, pois eles constituirão o teu caráter, e o teu caráter definirá o teu destino". Portanto, penso que para alterar a nossa realidade devemos primeiro e de fato desejar, querer, pensar e falar sobre isso. Esse seria um primeiro passo, que, penso, apenas uma educação libertadora e crítica é capaz de promover.

CRÍTICA COM RESPONSABILIDADE



Por: Jorge Schemes

Devemos usar o nosso direito ao voto como ferramenta para promover bons representantes políticos. Todavia, a máxima: "o poder corrompe", infelizmente tem se concretizado no meio político de uma maneira quase que geral. Como disse, não é regra, mas quase. Penso que nestes casos, os de corrupção, a sociedade civil deveria mobilizar-se para exigir o cumprimento da legislação, ou, se for o caso, a mudança na mesma. Em Brasília há um pensamento no meio político em relação as leis, dizem os de lá que há aquelas leis que pegam e aquelas que não pegam. Isso é uma banalização da justiça. Aliás, há uma banalização também na educação. 

Apesar de não ser regra, entretanto, as exceções são o paradigma. Por essa razão o ambiente escolar ultrapassado torna-se um aspecto difícil para o profissional da educação que quer inovar e fazer diferente do comum. Ele encontra muitas resistências. É remar contra a maré. Todavia, aqueles que têm persistido, têm percebido o retorno em termos de qualidade. Quanto a formação de sujeitos críticos, isso não significa a crítica pela crítica. 

O pensamento crítico verdadeiro tem fundamentação epistemológica e ética, por essa razão reporta a necessidade de responsabilidade. Talvez muitos educadores não entendam de fato o que significa uma educação libertadora e crítica. Não é a crítica pela crítica, mas uma formação mais ampla de leitura de mundo e de construção moral, acompanhada sempre de responsabilidade moral, ou, ética. Talvez esteja ocorrendo uma má interpretação do que significa ser um cidadão crítico. Por conta, talvez, de "professores urubus", que "enxergam só a carniça". Assim, vai se formando uma geração de "pseudos cidadãos", indivíduos que só sabem reclamar e não fazem a sua parte para que as mudanças se concretizem. É aquela velha história do furo na meia da noiva, tudo estava perfeito no casamento, mas tem gente que só comenta sobre o furo na meia. Formar cidadãos verdadeiramente críticos significa educá-los para a responsabilidade por meio da autonomia ética e moral.