Pensar a prática docente e pedagógica do professor sem pensar em como se deu sua formação inicial e como se dá a sua formação continuada não faz sentido. Pretendo elencar algumas ideias que me chamam atenção, interagindo com as mesmas dentro de uma perspectiva curricular pós-crítica, ou seja:
- A formação inicial aligeirada dos docentes centrada na prática imediata e nas necessidades do cotidiano tem um caráter pragmático e carecem de uma fundamentação teórica que possibilite uma mentalidade crítica e reflexiva como propõe o artigo.
- As proposições professor reflexivo, prático-reflexivo e professor pesquisador nos remetem a uma fundamentação teórica histórico-social, e para tanto, penso, ser necessário muita leitura e dedicação intelectiva para a formulação de ideias, conceitos e a transformação da informação em conhecimento e sabedoria. Pensei também ao ler essas ideias que se faz necessário nesse tempo digitalizado que haja o professor mediador-midiático embasado em princípios éticos consistentes.
- O ensinar, o transmitir e o aprender na educação infantil - O artigo traz uma reflexão bem significativa nessa questão, revelando a necessidade do resgatar o aprender da criança. O que pude perceber é que o aprender da criança depende em grande parte de uma formação inicial dos docentes que traga em seu currículo uma proposta teórica que possibilite a construção de um pensamento crítico e reflexivo, para que os alunos também o apreendam.
- Outro aspecto que me chamou a atenção no artigo diz respeito a formação humanística do professor, sua sensibilidade para captar a natureza humana dos seus alunos dentro de um contexto histórico-social e de múltiplas inteligências, lembrando Vygotsky, Leontiev e Howard Gardner.
- A lacuna curricular dos cursos de formação inicial, do curso de pedagogia de maneira específica, também me chamou atenção. Ao ler sobre isso, me pareceu que a lógica neoliberal e a ética capitalista que é utilitarista (os fins justificam os meios) também tem influenciado o currículo dos cursos de formação docente imprimindo uma pedagogia utilitarista e pouco reflexiva, até porque carece de conteúdo teórico significativo.
- Em relação as políticas públicas para a educação, me chamou a atenção as ideias do texto que nos remetem ao pouco caso dado à cultura de forma ampla, ignorando a diversidade dos sujeitos em seus meios culturais distintos como seres históricos biopsicosociais. Assim, pude refletir e perceber que há um empobrecimento curricular, com forte ênfase nos conteúdos mínimos e pouca ou nenhuma ênfase no multiculturalismo.
- Há um empobrecimento na formação do professor como intelectual da educação, e esse
empobrecimento está se refletindo numa prática pedagógica cotidiana distanciada de reflexões críticas, é o fazer por fazer que acaba predominando, percebi isso ao ler as ideias das páginas 8 e 9 sobre a necessidade de uma reflexão teórico-metodológica.
- As ideias do texto sobre a participação ativa da criança no processo de construção do conhecimento me levaram a refletir sobre a teoria da atividade de Leontiev. A atividade é sempre do sujeito como ser ativo do processo de construção de um conhecimento que não esteja alienado ou desvinculado de sua realidade, pois aquilo que não está inserido na realidade da criança e não tem vínculo com sua vida ela não está interessada, e aquilo que não lhe interessa ela não aprende.
- As ideias de superação da lógica capitalista na formação de professores e no exercício docente também despertaram meu interesse. Tenho lido Levinas e Henrique Dussel, e cada vez mais me convenço de que é necessário superar o conceito cartesiano de ser. A lógica neoliberal está embasada numa pseudo-ética que está subliminarmente sendo incutida pelo capitalismo a qual preconiza no subconsciente o seguinte princípio: ame as coisas e use as pessoas. Transportando essa dieia para a educação, ouso possibilitar um debate sobre essa questão, ou seja: não estariam os professores sendo formatados e domesticados para reproduzir o mesmo princípio no sentido pedagógico? Me refiro ao princípio do ame o que faz, o método, a técnica e ignore a teoria e consequentemente os seus alunos enquanto sujeitos históricos e sociais? Seria essa formação capitalista uma formação para autômatos?
- O aspecto mercadológico da educação elencado no artigo também me fez refletir muito. Nesse contexto capitalista de educação pragmática não seriam os alunos meras mercadorias de consumo? E os professores meros instrumentos técnicos destituídos de pensamento próprio, ou seja. meros refletores do pensamento alheio? Isso é preocupante, pois destitui do professor, como diz o artigo, o caráter intelectual de sua atividade. Lembrei o livro que li de Miguel Arroyo, onde ele faz uma reflexão sobre a imagem e a auto imagem do professor. Que imagem temos construído em nosso ofício? É o nosso ofício um ofício de mestre?
- A ideia de uma educação dualista, de uma educação para a formação de classes como já preconizava Platão, também é uma crítica reflexiva do artigo que gostei. E apenas uma formação docente num contexto histórico-social carrega consigo a função social e a possibilidade de desenvolver no sujeito uma visão crítica diante da complexidade e da pluralidade do contexto histórico, social e epistemológico contemporâneo.
- O contraponto entre a formação estrita (do cotidiano do trabalho escolar) e a formação ampla (do conhecimento acumulado historicamente pela humanidade) foi outro aspecto que destaco do artigo. Refleti em minha própria formação (pedagogia com habilitação em séries iniciais), a qual se norteou pelos princípios capitalistas do pragmatismo pedagógico, tendo uma grande carência de fundamentação teórica numa perspectiva histórico-cultural, o que me fez buscar essa lacuna por meio de contínuas formações continuadas até o momento, assim, posso afirmar que, ainda não sou, estou sendo e me fazendo professor.
Jorge Schemes
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