DEMÓCRITO E PARMÊNIDES


Por: Jorge Schemes

Trabalhar com a disciplina de filosofia com alunos do Ensino Médio tem aspectos significativos, mas também apresenta algumas dificuldades a serem superadas pelo professor. Partindo deste pressuposto surgem alguns questionamentos, ou seja: 1. Como levar os alunos a demonstrar interesse por essa área do conhecimento? 2. Como fazer com que a filosofia não seja apenas mais uma disciplina a ser estudada? 3. Como levar os alunos a desenvolver uma atitude filosófica e crítica diante da própria filosofia? 4. Como incentivá-los a filosofar e não apenas aprender sobre filosofia apenas numa perspectiva conteudista?

Em minha prática pedagógica desafiei meus alunos a pensar na filosofia, antes de mais nada. Pensar apenas. Sem exigir um conteúdo específico. Levei-os até a biblioteca da faculdade e convidei a todos para entrar em contado com a literatura filosófica disponível. Defini alguns filósofos previamente, e fiz um sorteio entre os alunos. O desafio seria encontrar na literatura filosófica informações sobre a vida do filósofo (biografia) e seu pensamento filosófico (filosofia). Não exigi quantidade, mas qualidade e objetividade. Foram três saídas à biblioteca. Percebi que houve, de maneira geral, um despertar para o assunto. Inclusive alguns começaram a ler sobre outros assuntos ligados a filosofia. O contato com os livros foi muito positivo. 

Depois permiti que completassem a pesquisa buscando informações na internet. Após organizar a coleta de dados, os alunos foram desafiados a apresentar o resultado da sua pesquisa em sala de aula. A apresentação foi muito espontânea, dando prioridade para aqueles que já estavam mais bem preparados. Na primeira aula, tivemos a apresentação sobre as ideias de Demócrito e Parmênides. Enquanto apresentavam a pesquisa, mesmo fazendo leituras em determinados momentos, desafiei os alunos a pensarem no significado do que estavam dizendo e ouvindo. No início as participações em forma de debate de ideias foram tímidas, todavia, o andamento da aula começou a mudar pouco a pouco, na mesma proporção em que os alunos foram percebendo que poderiam expressar suas opiniões sem medo de serem criticados ou ridicularizados. 

Após cada participação procurei estimular mais ainda o pensamento crítico usando o método socrático da maiêutica. Uma aula foi pouco para discutir as ideias de Demócrito e Parmênides. Todavia, gostaria de destacar alguns pontos relevantes do debate. Ao serem apresentadas algumas ideias de Demócrito (da escola atomista), alguns alunos ficaram surpresos com o fato deste filósofo ter chegado a ideia e concepção de átomo sem nenhum aparato tecnológico. Também ficaram "espantados" com o fato de que as ideias de Demócrito perduraram na cultura ocidental por mais de 2.500 anos chegando até os nossos dias. 

Ao apresentar o contexto mítico no qual ocorreu tal elaboração filosófica, os alunos perceberam a validade da filosofia grega como uma forma de pensamento sistematizado e reflexivo. As ideias de Parmênides sobre o ser e o não-ser, sobre a impossibilidade do movimento (o movimento como uma ilusão) e sobre o ser uno, eterno e imutável (concepção metafísica), também geraram um debate interessante. Dentre as ideias que afloraram estava a que defendia a existência de universos paralelos como possibilidades da realidade. A discussão passou pelas teorias da física quântica sobre o tempo e o espaço. 

Falamos também da concepção de Deus dentro da perspectiva da metafísica proposta por Parmênides. Acabamos aquela aula nos perguntando: "mas afinal, o que é a realidade?" Os alunos também puderam perceber que, o pensamento de Parmênides sobre a imobilidade do ser e ausência de movimento, quando confrontado com o pensamento de Heráclito (fluxo constante de todas as coisas), cria um princípio de debate de ideias denominado dialética. E mais, que a contribuição de Parmênides para o pensamento filosófico ocidental pode ser sentida no cotidiano, por meio das afirmações que fazemos e que têm como fundamento a metafísica. De qualquer forma, pude perceber que meus alunos do Ensino Médio estão começando a libertar o pensamento, e consequentemente, descobrindo o mundo da filosofia.

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