PEDAGOGIA QUÂNTICA




PEDAGOGIA QUÂNTICA

Por: Jorge Schemes

A física quântica surgiu no século XX como uma ciência que estuda o movimento dos átomos e das partículas subatômicas. Ela revolucionou o entendimento da realidade e superou, em certo sentido, as explicações da física de Newton. Segundo a física clássica, o mundo é visto com certezas avaliativas de objetos, fornecendo fórmulas e instrumentos para calcular peso, distância, força, impacto, velocidade, etc. Porém, as mesmas leis e fórmulas não se aplicam na física quântica. No lugar do determinismo da física clássica, a física quântica apresenta o princípio da incerteza, ou seja, que no microcosmo do mundo quântico as partículas subatômicas se comportam de maneira imprevisível. As partículas microscópicas do átomo são vistas como ondas de possibilidades, pois podem estar ali, aqui e acolá. Por exemplo, o elétron, que é uma partícula subatômica, comporta-se como uma partícula, mas também se comporta como onda, pois não pára quieto e pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Os elétrons são ondas que se propagam pelo espaço, mas também são partículas, ou seja, objetos microscópicos. 

Essa dupla característica é denominada pelos físicos modernos de "dualidade onda-partícula". E um aspecto não funciona sem o outro, pois é um conjunto aparentemente contraditório. Todavia, ficou comprovado em laboratório, por meio de experimentos científicos, que ao serem observados com instrumentos tecnológicos, os elétrons sofrem uma interferência no seu movimento ou rumo. Quando um elétron é observado ele pára em um só ponto. Ou seja, o cientista é capaz de interferir no rumo do elétron e alterar a realidade do mundo microscópico da física quântica, embora não tenha controle sobre o lugar em que a partícula vai parar.

Há outro fator que é impressionante na realidade quântica. Ficou comprovado pela ciência moderna que um elétron pode influenciar outro elétron quando sofre alguma interferência por meio da observação. E o mais fantástico é que isso pode ocorrer à distância. Os cientistas, por meio de tecnologias em laboratórios são capazes de estimular a "comunicação" e a interação dos átomos entre si. É possível fazer com que os átomos se comportem de forma interligada, por exemplo, ao mexer em um átomo o outro também se mexe. O mais surpreendente disso é o fato de que para ocorrer esse processo de interdependência a distância é irrelevante, ou seja, a interdependência independe da distância entre as partículas. É como se o espaço não existisse, pois se o cientista mexer com um átomo no Brasil pode fazer com que outro se movimente na China, ou mais distante ainda, em Saturno. Na década de trinta, Albert Einstein batizou esse fenômeno de "ação fantasmagórica a distância". Atualmente esse princípio quântico é conhecido como "entrelaçamento de partículas".

Ao pensar na educação dentro destes conceitos quânticos, podemos fazer um paralelo e ao mesmo tempo uma aplicação destes princípios. Se, por meio da observação instrumental, o ser humano é capaz de influenciar a realidade do microcosmo das partículas subatômicas, também seria possível alterar nossa realidade por meio do pensamento positivo. Considerando que nosso corpo é composto de átomos, bem como toda realidade que nos cerca, e que o pensamento também é uma onda de energia. Diante desta premissa faz-se necessário que os educadores tenham uma atitude positiva e aprendam a desenvolver o pensamento positivo sobre si mesmos e o seu ofício. Se acreditamos que nossa mente é capaz de alterar nossa realidade, se acreditamos que a nossa realidade é o resultado de nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações, então não podemos continuar pensando coisas mesquinhas sobre o que somos e fazemos. Precisamos eliminar os sentimentos negativos que são alimentados por meio de nossos pensamentos e palavras, ou seja, coisas como baixa autoestima, derrota, desânimo, ódio, inveja ou qualquer outro sentimento negativo precisam dar lugar a pensamentos e palavras de otimismo. 

Se desejamos receber coisas boas de nossos alunos em sala de aula, devemos pensar e falar destas coisas com eles. Assim como o elétron é influenciado em seu rumo quando observado e sofre uma parada, também podemos mudar o rumo de nossa atividade docente quando mudamos a nossa disposição mental e passamos a pensar predominantemente de maneira positiva. Penso que muitos problemas em sala de aula são causados pelos próprios professores devido a sua disposição mental negativa em relação a si mesmos, ao que fazem e a seus alunos. É comum, na hora do intervalo das atividades docentes, professores reclamarem de seus alunos e falarem mal de sua profissão. O pensamento, as palavras e o sentimento que predomina são de desânimo, tristeza, rancor e revolta. Eles já saem da sala dos professores com "pedras nas mãos" para se defender da indisciplina e das atitudes de violência de seus alunos. E o que acontece? Justamente o que não desejam, ou o que temem. Os alunos acabam refletindo o que seus professores pensam, sentem e falam a seu respeito. Esse princípio é chamado por alguns teóricos da física quântica de "lei da atração". Ou seja, atraímos para a nossa vida aquilo que dedicamos atenção, energia e concentração. Certamente você já ouviu dizer que amor gera amor, ódio gera ódio, medo gera medo, confiança gera confiança, respeito gera respeito, etc. Desta maneira, se desejamos despertar o melhor em nossos alunos devemos pensar, falar, sentir e desejar o melhor deles. Devemos acreditar que eles têm o melhor para nos oferecer e esperar com confiança que irão corresponder aos nossos pensamentos, palavras e sentimentos.

O princípio quântico de entrelaçamento de partículas revela que há uma sincronicidade no universo, ou seja, não há coincidências, pois tudo está interligado. Sendo assim, não estamos separados do todo, mas somos parte do universo. Diante disto, o dualismo psicofísico de R. Descartes cai por terra, ou seja, sua tese de que somos apenas substância extensa (corpo) e substância pensante (mente) já não é mais suficiente para entender a nossa realidade. Porém, o que norteia a concepção de realidade do mundo capitalista e neoliberal é justamente a concepção cartesiana, de que o ser humano é como uma máquina programada e fragmentada, separado do todo. A ideia cartesiana do sujeito como ser pensante promove o individualismo egoísta. 

A propósito, esta concepção cientificista de ser humano influenciou fortemente os modelos pedagógicos por meio da psicologia experimental de B. Skinner com sua tese do behaviorismo. Todavia, pela física quântica percebemos a realidade de modo totalmente inverso, ou seja, não somos seres fragmentados, mas estamos todos interligados pelo mesmo princípio que rege o entrelaçamento de partículas. O que quer que o ser humano faça, não está fazendo apenas a si mesmo. Não tecemos a rede da vida, somos apenas um nó desta rede. Se de fato, estamos todos interligados no universo, precisamos rever as nossas concepções de educação, de ser humano e de sociedade. Na perspectiva do princípio quântico do entrelaçamento de partículas, como educadores não podemos pensar no conhecimento de forma fragmentada ou separado do todo. A especialização é necessária, mas nada mais é do que saber cada vez mais acerca de cada vez menos. Há urgência em desenvolver uma concepção integral da realidade e do ser humano. 

O conhecimento não pode ser visto como algo linear, mas sistêmico. Em sala de aula devemos pensar, falar, sentir e agir de forma interdisciplinar e transdisciplinar. Devemos perceber o entrelaçamento de nossa prática com as demais práticas. Chegou o momento de parar de fazer educação de forma fragmentada, separada e alienada da realidade de nossos colegas de trabalho e de nossos alunos. Mas como é possível mudar nossa prática? Devemos primeiro mudar os nossos pensamentos, palavras e sentimentos. Platão já nos disse que este não é um processo fácil. Sair da caverna é sentir o desconforto de questionar as nossas certezas. Embora a física quântica nos ajude a entender a realidade sob outro prisma, o que irá determinar de fato a mudança será o pensamento positivo, o qual se manifestará em nossas palavras e sentimentos e criará, por meio da lei da atração, a realidade que desejamos.

O CONHECIMENTO




PERSPECTIVAS DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Por: Jorge Schemes

Nada tem um sentido definitivo e de verdades absolutas. Educar é instigar em cada aluno as suas próprias magias. Todo conhecimento é autobiográfico, cada um constrói seu próprio conhecimento, pois conhecimento não se transmite, mas se produz, partindo da realidade de cada um. Por isso o conhecimento autobiográfico é intransferível. O movimento e a atividade são os eixos norteadores da apreensão do conhecimento. A educação é um espaço de tensão entre forças contraditórias. A democratização da educação e a construção de consciências, mais que a transmissão de informações, deve, consciente ou não, trabalhar valores. A pedagogia é tributária a uma epistemologia (concepção de conhecimento).

O método científico acaba formatando modelos de educação (currículos, estruturas e práticas). Na concepção científica a verdade é uma só e há uma punição do erro, o qual poderia ser uma outra verdade do ponto de vista histórico-cultural. O modelo da modernidade alicerça nossos conhecimentos e as universidades são as grandes guardiãs deste modelo. A ciência moderna produziu muitos benefícios para a humanidade por meio de tecnologias, mas ela tem efeitos colaterais. A pós-modernidade começa apresentar novos paradigmas, mesmo diante da objetividade científica há uma busca por subjetividades não reconhecidas pela ciência moderna. A ruptura paradigmática propõe outros modelos. É necessário romper os limites de loteamento do conhecimento. A perspectiva emancipatória enfatiza o processo, não a regulação própria do tradicionalismo. Numa perspectiva generalizada não existem dogmas dentro de uma única concepção, mas tantos quantos são os olhares (verdades). A teoria é o resultado de múltiplas generalizações, mas a prática é e sempre será única. 

O modelo tradicional é construído na lógica do saber factual e objetiva silenciar a dúvida e a divergência, enquanto que a perspectiva pós-moderna vê o conhecimento como objeto em construção, privilegia espaço para dúvida e contempla a divergência por meio da dialética. Todavia, se construir ou se for o caso se reconstruir dentro desta concepção, exige uma ruptura interna. O problema é que em muitos professores não há uma matriz de reflexão teórica, mas uma matriz de reprodução. Contudo, os saberes não vêm de uma única fonte, eles são na verdade múltiplos e dentro de um processo contínuo e não pontual. Diante disso, fica o desafio de construir, destruir e reconstruir constantemente a nossa formação visando alcançar autonomia intelectual.

MEDIADOR MIDIÁTICO




O PROFESSOR COMO MEDIADOR MIDIÁTICO

Por: Jorge Schemes

Século XXI, século da comunicação, século da informação, da era digital e dos espaços virtuais. É dentro deste contexto que a escola pós-moderna está inserida como uma verdadeira "ilha de resistência" ao novo, ao diferente, às mudanças instantâneas da era da informática e da robótica. Digo "ilha de resistência" porque a escola, na grande maioria dos casos, ainda é um espaço de disritimia entre o que ocorre no mundo regido pelo mercado financeiro e o que ocorre no universo da práxis pedagógica. Não receio em afirmar que a escola, formatada do jeito que está, e estruturada como um espaço de reprodução e cópia cognitiva, é, de fato, uma continuação de um projeto medieval de subordinação do pensamento próprio, da identidade própria e das diferenças. Aliás, o objetivo deste projeto milenar é buscar a unidade (uniformidade) na diversidade, pois é regido por uma concepção ultrapassada de ser humano, a concepção metafísica. Sendo assim, a escola não pode cumprir plenamente com o seu papel social, cultural e educativo, pois suas açõs e operações não visam os sujeitos deste tempo histórico e social. 

A sala de aula, com sua estrutura física obsoleta, nos remete a posturas atitudinais de fragmentação do conhecimento e pseudas práticas de ensino, nas quais, os sujeitos não conseguem estabelecer uma conexão lógica e uma coerência entre o conteúdo informado e transmitido com as suas realidades. Diante da reflexão sugerida, qual a exigência do contexto histórico, social e econômico para a formação docente? Qual o papel do professor no contexto da era da informação? Certamente que não pode e não deve ser o mesmo de 30, 20, 10, 5 ou um ano atrás. Cada vez mais, o mercado financeiro como um organismo vivo, e não propriamente as políticas públicas voltadas para a educação, é que está ditando as regras e a necessidade de inovação. 

A escola ainda é um organismo morto dentro de um organismo vivo, dinâmico e repleto de transformações e mudanças. Neste sentido a escola ainda é uma ilha de resitência, mas não por muito tempo. A inovação na estrutura da escola será inevitável diante dos avanços das tecnologias. O contexto emergente sugere a necessidade de inovar métodos, práticas, didáticas, currículos, formação docente e infra-estrutura. O professor inteligente saberá por meio da intuição e de uma atitude pró-ativa o caminho que deverá seguir daqui pra frente. Este caminho é primeiramente um caminho de descontrução e reconstrução permanente no aspecto cognitivo. Mas também é uma caminho de busca e de esforço intelectivo. Pois diante das novas tecnologias e da avalanche de informações dispostas e disponíveis nos substratos digitalizados, o professor atuará mais como uma mediador midiático do que como interlocutor. 

O mediador midiático será capaz de "ler" e "interpretar" as diferentres fontes de informações, bem como de promover os parâmetros necessários para filtrar os conteúdos entre aquilo que é relevante e aquilo que é banal. O professor midiático deverá ter sólida fundamentação ética e moral, de tal maneira que contemple com a sua postura e com suas atitudes a diversidade presente no ambiente de ensino e aprendizagem, seja ele virtual ou físico. São os valores presentes na prática docente que farão a diferença na apreensão do conhecimento, que cada vez mais desenha-se como sendo autobiográfico. O professor midiático deverá ter o domínio técnico dos novos suportes da informação, esse é o requisito básico para trabalhar com a informação, a qual já possuí um mundo próprio e viaja na velocidade da luz. O desafio maior para o professor midiático será estimular a transformação de informações relevantes em conhecimento cientificamente válido e eticamente aceitável.

SER PROFESSOR




Por: Jorge Schemes

O trabalho docente é desafiador e exige cada vez mais uma atitude pró-ativa e inovadora. Não é tão simples assim sair da mesmice pedagógica, aquela que acaba transformando a própria pedagogia enquanto prática, em dogma. Penso ser mais fácil se deixar guiar "pelo mesmo" e resistir ao novo, contudo, se desejamos, de fato, uma educação libertadora e crítica precisamos ousar. E ousar é correr riscos, aliás, precisamos estar cientes que toda educação apresenta uma possibilidade de fracasso. Na perspectiva do docente isso não é avaliado como deveria, por exemplo, no conceslho de classe, a culpa é quase sempre do aluno. Contudo, ser professor, penso, é a maior oportunidade que temos para criar e recriar a realidade. Contudo, como educadores, precisamos nos fazer como intelectuais, construir uma auto-imagem positiva a esse respeito e demonstrar essa imagem, ou seja, precisamos ser referência quando o assunto é educação.

Esta semana, em minha prática de sala de aula, aprendi mais sobre a necessidade de compreender a natureza humana em sua totalidade e diversidade. Aprendi com meus erros e também com meus acertos, penso que os tenho de vez em quando. Todavia, aprendi mais ainda com meus alunos do curso de pedagogia e do ensino médio. Quanto a estes, por serem adolescentes, aprendi que é necessário utilizar todos os fundamentos possíveis da inteligência emocional para motivá-los. Meus alunos do ensino médio são humanos, têm o humano no ser, e por essa razão são um enigma, um mistério que de vez em quando se permite vislumbrar. As aulas foram muito produtivas, isso do meu ponto de vista, mas ainda irei conversar com eles para verificar a perspectiva deles em relação a isso. Entretanto, pude perceber um amadurecimento nos debates filosóficos de sala de aula. Eles têm idéias fantásticas e argumentos plenamente válidos para uma reflexão filosófica norteada pela atitude crítica. Isso alimenta os meus sonhos de educador, dentre os quais aquele em que vejo a educação como a grande ferramenta de transformação social, política, ética e moral da sociedade. Nas discusões realizadas em sala de aula, partindo de questionamentos filosóficos sobre o direito a vida, a questão do aborto e a questão da liberdade, os alunos destruíram conceitos prontos e acabados, os reconstruíram e perceberam que o conhecimento não está fechado em dogmas. 

O pensamento foi estimulado a libertar idéias aprissionadas e mover em espiral conceitos aparentemente óbvios. também percebi a angústia de alguns ao descobrirem que suas verdades não eram tão invioláveis quanto pensavam. Afinal, penso, esse é o objetivo da filosofia, mover pensamentos e pensar o já pensado como um processo de reflexão contínua. Ou seja, o pensamento dando voltas sobre si mesmo e pensando sobre si mesmo. Quanto aos meus alunos da faculdade de pedagogia, também tenho que admitir o envolvimento da maioria no processo de busca, construção e reconstrução do conhecimento. Particularmente, penso, que "formar" futuros educadores é um grande privilégio e um grande desafio. Talvez a palavra formar não seja mais adequada, diante da era do conhecimento e da informação, penso, que, talvez, o mais adequado seja pensar no processo de construção do conhecimento dentro de uma perspectiva de construção individualizada ou autobiográfica. O autogerenciamento de suas competências e a autonomia intelectual são critérios fundamentais para pensar nesta perspectiva. Penso que um dos grandes desafios da educação do século XXI é mudar o paradigma de um educação impositiva para uma educação libertadora, crítica e que promova a autonomia ética, moral e intelectual de nossos alunos.

POR UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA




Por: Jorge Schemes

Gonzaguinha – É
É...a gente quer valer o nosso amor; a gente quer valer nosso suor; a gente quer valer o nosso humor; a gente quer do bom e do melhor; a gente quer carinho e atenção; a gente quer calor no coração; a gente quer suar mas de prazer; a gente quer é ter muita saúde; a gente quer viver a liberdade; a gente quer viver felicidade. É...a gente não tem cara de panaca; a gente não tem jeito de babaca; a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mão nela. É...a gente quer viver pleno direito; a gente quer viver todo respeito; a gente quer viver uma nação; a gente quer é ser um cidadão. É...

A pergunta que deve ser feita primeiramente é: "o que de fato desejamos?" Será que de fato desejamos amor, saúde, liberdade, felicidade, direitos, respeito e cidadania? Há uma manipulação dos nossos desejos por parte da mídia. A lógica capitalista coloca o "ter" em prioridade. Há uma coisificação dos nossos mais íntimos desejos, os quais são transformados em mercadorias de consumo. Por exemplo, no lugar da felicidade é colocado um carro zero, no lugar do amor e da afetividade o consumo desenfreado. "Ter" e não "ser", esse é o princípio do capitalismo. Por essa razão, faz-se necessário primeiramente uma reflexão sobre o que desejamos de fato. Partindo disso, será possível identificar necessidades reais e estabelecer metas e ações para realizá-los. Também é pertinente refletir no significado do sonho e da realidade, afinal, o que é o sonho? O que é a realidade? 

Penso que o sonho acordado é necessário, pois sonhar é desejar, é ter esperança de uma realidade utópica. A utopia não é de todo negativa, pois nos dá esperança, assim, há um círculo vicioso entre sonhar e cair na real, ou seja, o sonho alimenta a esperança, e esta produz a energia que nos move em direção a outra realidade possível. Portanto, as nossas ações devem estar ancoradas em sonhos constantes, pois parar de sonhar significa dogmatizar as ações. O dogma não promove a mudança, pois é sempre do mesmo jeito, assim, pessoas que não sonham não podem mudar a sua realidade, pois vivem numa mesmice dogmática, fazem sempre do mesmo jeito e pensam sempre da mesma maneira. Para quebrar com este paradigma o único instrumento que pode ser usado é a educação, mas ela mesma pode ser um dogma, por isso faz-se necessário um novo paradigma na educação. Este novo paradigma deve ser norteado pela liberdade e pela crítica, pois uma educação libertária não reproduz a ideologia dominante e não subordina o pensamento das pessoas, mas ensina a pensar e acreditar nos sonhos como ponto de partida das transformações. Também ensina a agir, pois um sonho sem ação é apenas um sonho. 

Ficar sonhando e não agir é viver numa eterna utopia, num eterno devir. Temos o poder para alterar a realidade, ao mudar primeiramente a maneira de pensar sobre a realidade. Na física quântica, na microfísica, no mundo das moléculas e dos quantas, isso é uma possibilidade real, pois a realidade vai muito além da concepção dualista e psicofísica de Descartes, ou mesmo dos princípios newtonianos da física clássica. A realidade na perspectiva quântica está sujeita a incertezas e improbabilidades, pois é relativa. Isso nos permite pensar na realidade como um conjunto de fatores não isolados, mas interligados. A realidade fragmentada é percebida como tal por causa do paradigma moderno da ciência, das especializações, que nada mais são do que conhecimentos específicos sobre o todo, sendo que, podemos defini-la da seguinte maneira: "especialização é saber cada vez mais a respeito de cada vez menos", a regra é: quanto mais especificidade, mais ignorância do todo. 

Portanto, deixar de ver ou ter a percepção do todo, ou ainda deixar de querer vê-lo é um perigo. Pois os princípios de todo fundamentalismo estão enraizados nesta visão fragmentada da realidade. Deste modo, só é possível alterar a realidade, quando desejamos de fato alterá-la, primeiramente pelo pensamento, depois pelas palavras, as quais devem conduzir a ações concretas. Há um ditado budista que diz que a nossa realidade e tudo o que acontecerá conosco inicia-se em nosso pensamento. O ditado diz o seguinte: "cuide dos teus pensamentos, pois eles se transformam em palavras, ou seja, eles se materializam, pois tanto os pensamentos quanto as palavras são ondas de energia, (dentro do princípio da mecânica quântica isso é fato); cuide das tuas palavras, pois elas se transformam em ações; cuide das tuas ações, pois elas se transformam em hábitos, cuide dos teus hábitos, pois eles constituirão o teu caráter, e o teu caráter definirá o teu destino". Portanto, penso que para alterar a nossa realidade devemos primeiro e de fato desejar, querer, pensar e falar sobre isso. Esse seria um primeiro passo, que, penso, apenas uma educação libertadora e crítica é capaz de promover.

CRÍTICA COM RESPONSABILIDADE



Por: Jorge Schemes

Devemos usar o nosso direito ao voto como ferramenta para promover bons representantes políticos. Todavia, a máxima: "o poder corrompe", infelizmente tem se concretizado no meio político de uma maneira quase que geral. Como disse, não é regra, mas quase. Penso que nestes casos, os de corrupção, a sociedade civil deveria mobilizar-se para exigir o cumprimento da legislação, ou, se for o caso, a mudança na mesma. Em Brasília há um pensamento no meio político em relação as leis, dizem os de lá que há aquelas leis que pegam e aquelas que não pegam. Isso é uma banalização da justiça. Aliás, há uma banalização também na educação. 

Apesar de não ser regra, entretanto, as exceções são o paradigma. Por essa razão o ambiente escolar ultrapassado torna-se um aspecto difícil para o profissional da educação que quer inovar e fazer diferente do comum. Ele encontra muitas resistências. É remar contra a maré. Todavia, aqueles que têm persistido, têm percebido o retorno em termos de qualidade. Quanto a formação de sujeitos críticos, isso não significa a crítica pela crítica. 

O pensamento crítico verdadeiro tem fundamentação epistemológica e ética, por essa razão reporta a necessidade de responsabilidade. Talvez muitos educadores não entendam de fato o que significa uma educação libertadora e crítica. Não é a crítica pela crítica, mas uma formação mais ampla de leitura de mundo e de construção moral, acompanhada sempre de responsabilidade moral, ou, ética. Talvez esteja ocorrendo uma má interpretação do que significa ser um cidadão crítico. Por conta, talvez, de "professores urubus", que "enxergam só a carniça". Assim, vai se formando uma geração de "pseudos cidadãos", indivíduos que só sabem reclamar e não fazem a sua parte para que as mudanças se concretizem. É aquela velha história do furo na meia da noiva, tudo estava perfeito no casamento, mas tem gente que só comenta sobre o furo na meia. Formar cidadãos verdadeiramente críticos significa educá-los para a responsabilidade por meio da autonomia ética e moral.

REFLEXÕES SOBRE ÉTICA, CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL



Por: Jorge Schemes

"Eu preciso participar das decisões que interferem na minha vida. Um cidadão com um sentimento ético forte e consciência da cidadania não deixa passar nada, não abre mão desse poder de participação." (Herbert de Souza, o Betinho)

Herbert de Souza encarnou o que disse até o último dia de vida. Aliás, suas palavras são o resultado de sua vida, de sua luta social por uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. Contudo, sua visão de futuro não ficou sem ação, pois do contrário seria apenas um sonho. Também suas ações não estavam destituídas de sonhos, pois se assim fosse, seriam apenas um passa-tempo sem propósitos maiores. Desta maneira, podemos afirmar que as palavras de Betinho são o resultado de uma visão de futuro (sonho) acompanhada de ações concretas, inseridas no contexto histórico e social de seu tempo, o que gerou uma mudança de atitude e consciência. Assim, podemos afirmar que: "Uma visão de futuro sem ação é apenas um sonho. Ações sem uma visão de futuro (sonho) são apenas um passa-tempo. Todavia, uma visão de futuro (sonho) acompanhada de ações planejadas e intencionais, podem causar um revolução na história de vida pessoal e social".

Há um imperativo na declaração de Betinho, de que precisamos participar das decisões que interferem na nossa vida. Não é opcional. Ou participamos ou nos alienamos. A omissão pode ser considerada uma alienação. Se desejamos construir nossa cidadania, "precisamos" participar das decisões que afetarão nossa vida. Por exemplo, a questão do direito ao voto nas eleições Municipais, Estaduais e a nível Federal. Precisamos participar. Mesmo quando o voto é branco ou nulo está havendo participação, contudo, não há um sentimento ético e consciência cidadã. Precisamos participar com intencionalidade e consciência ética. Nosso poder decisório é muito maior do que supomos. Se de fato praticarmos a democracia plena, nossos direitos enquanto cidadãos, estaremos criando uma atmosfera de poder ao nosso redor. Devemos lembrar que as pessoas só poderão nos tratar como seres inferiores com o nosso consentimento. 

Quem vive na dimensão de súdito, está colocando-se numa posição de inferioridade em relação aos seus direitos. Não está exercendo seu poder decisório. Penso que, neste sentido, a fundamentação ética é super importante, principalmente quando entendemos que a ética pode fundamentar as relações sociais ou não. Penso ainda que este sentimento ético forte só pode existir por meio de uma educação libertadora e crítica. Não é possível desenvolver este sentimento ético sem uma fundamentação teórica consistente. O conteúdo desta fundamentação não pode estar norteado pela lógica capitalista, pois a ética do mercado é utilitarista, ou seja: os fins justificam os meios. Penso que a melhor fundamentação para uma ética que contemple as diferenças e a diversidade presentes em nossa cultura é a ética da alteridade de Emmanuel Lévinas. Essa manifestação ética está expressa de alguma maneira no rosto do outro. Há uma certa encarnação da ética como filosofia primeira quando apreendemos o sentido da humanidade, e o que há de mais humano no ser, revelado no rosto do outro. Este outro é uma referência ao "totalmente outro", o excluído, o segregado, o discriminado pela lógica do neoliberalismo, o qual contempla o humano apenas na dimensão do capital e do trabalho, como agente de produção. Há uma fragmentação da dimensão humana no universo da técnica neoliberal. Esse dilaceramento do humano no ser precisa ser restaurado, e o caminho, o único possível, é a educação libertadora e crítica. Não há outro meio pelo qual possamos resgatar e reconstruir o sentimento ético forte e a consciência da cidadania como instrumentos internos, para que o sujeito possa exercer seu poder de participação. Quem não tem essa fundamentação não participa, e quem não participa é um mero espectador e joguete nas mãos dos detentores do poder.

A educação, dentro do contexto neoliberal e da lógica capitalista, tem sido aparelho ideológico do Estado neste país desde sua invasão. Quem vai fazer a diferença é o professor, o qual pode reproduzir a ideologia de subordinação e dominação, ou pode ser um agente de transformação e mudança. Contudo, para que o professor seja um agente de transformações, ele próprio precisa ser construído e formado continuamente dentro de um contexto educacional crítico e dialético. Pessoalmente, acredito que é possível quebrar os velhos paradigmas da exclusão e discriminação. O preconceito é aprendido, e se é aprendido pode ser desaprendido. Não é tarefa fácil, pois poderá exigir o abrir mão de interesses próprios e possíveis vantagens. O fato é que, assim como o Betinho, há milhares de outros que estão lançando a semente para um amanhã mais justo, igualitário e solidário. Todavia, não podemos negar que há interesses politiqueiros em muitos programas assistencialistas e de fachada. Como cidadãos, precisamos participar no sentido de acompanhar as ações sociais promovidas pelo Governo. Infelizmente, se perguntarmos em quem as pessoas votaram nas eleições passadas, a grande maioria talvez não consiga lembrar. 

O contexto em que o neoliberalismo insere-se na vida de milhões de brasileiros não foi favorável a uma reação por parte do povo. Pois o Brasil, nunca foi um Estado de Bem-Estar. Por conta disso, o neoliberalismo está exercendo um papel de exclusão social muito mais impactante do que ocorreu na Inglaterra, país desenvolvido às custas do sangue alheio. Os ingleses, os grandes sanguessugas da humanidade, quando assumiram a política neoliberal, viviam um Estado de Bem-Estar mais consistente do que o Brasil. Há uma desvantagem para nós do ponto de vista positivista . Entretanto, nosso povo pode ser considerado herói, pois tem usado da criatividade e da inovação para superar suas deficiências. Aliás, o que pode ser considerado o nosso maior patrimônio? Sem dúvidas, o maior patrimônio do país são as pessoas. Não adianta o país crescer o PIB 10% ao ano, se não houver mão-de-obra qualificada e pessoas pensantes para sustentar tal crescimento. 

Os talentos e competências dos recursos humanos disponíveis são o principal diferencial para crescermos de verdade. Por este viés, a qualidade na educação é a principal via de sustentabililidade. Crescer economicamente e não crescer intelectualmente e moralmente equivale a estagnação. Se o país não fizer investimentos pesados em educação, as coisas não irão melhorar de fato. Penso que a discusão em torno da educação tem duas correntes que se destacam, ou seja: aqueles que defendem uma educação para a cidadania (posição civil democrática), e aqueles que defendem uma educação técnica para o mercado de trabalho (posição conteudista). Assim, penso que não basta formar técnicos, faz-se necessário preparar a juventude para atuar como cidadãos críticos e participativos. Volto a declarar a minha crença numa educação libertadora e crítica, capaz de servir como instrumento para a promoção da justiça social.

Pensando em Aristóteles para fundamentar nossas ações políticas, de participação e legitimação de direitos, faz-se necessário entender a política como um desdobramento natural da ética, pois tanto a ética quanto a política compõem a unidade do que Aristóteles costumava chamar de filosofia prática. Há duas dimensões que envolvem a ética e a política. Enquanto a ética está preocupada em buscar e encontrar a felicidade individual do sujeito cidadão, a política está interessada em alcançar a felicidade coletiva (social). Desta maneira, é tarefa da ética e da atitude política investigar e descobrir quais são as formas de governo e quais são as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se, portanto, de investigar a constituição do Estado, sua atuação e suas competências, para, partindo desta premissa, participar de forma mais consistente e consciente enquanto cidadão. Portanto, não podemos separar a ética da política, ou seja, das nossas ações individuais e de participação social.

Analisando os dados aterradores da péssima qualidade na educação divulgados no Ideb, concluí parcialmente que há vários fatores para chegarmos nestes índices; na minha opinião, o que mais tem pesado é a disritmia da escola com este tempo histórico e social, ou seja, o currículo está descontextualizado, a escola ainda apresenta os moldes medievais. Desta maneira fica difícil captar a atenção e o interesse dos alunos, que na maioria dos casos são meros expectadores do processo e não atores e autores. Os alunos precisam ter voz e vez. 

O currículo deve partir da realidade deles e desafiá-los na construção de sua autonomia intelectual, ética e moral. Se um determinado conteúdo não está vinculado com a minha realidade, este conteúdo não tem significado para mim, e aquilo que não significa nada pra mim, não me interessa, e o que não me interessa eu não quero aprender. É a lógica de uma educação metafísica e excludente. Faz-se necessário uma concepção histórico-social de ser humano. Partir do conhecimento real dos alunos, ou seja, daquilo que eles já sabem, para o conhecimento potencial, científico.

LUCUBRAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO


Por: Jorge Schemes

A grande ferramenta de transformação social é a educação. Não pode haver mudança, movimentos sociais legítimos e nem mentalidade crítica e cidadã, sem um processo educacional consistente e fundamentado em sólidos princípios, éticos, teóricos e metodológicos. Penso que toda a prática está embasada em pressupostos teóricos, pois não há prática sem teoria e vice-versa, assim, partindo desta premissa, a educação não contém um conhecimento vazio ou descontextualizado. 

Também se faz necessário considerar que toda educação é política, não necessariamente no sentido partidário, mas no sentido aristotélico do termo, ou seja, como dizia Aristóteles: "o ser humano é um animal político". A educação, por ter um conteúdo significativo com a realidade histórico-social do indivíduo, promove esse movimento político de construção de uma sociedade participativa. Quando um conteúdo tem vínculo com a realidade do sujeito, ele tem significado, e quando tem significado se torna relevante, e aquilo que é relevante para o indivíduo passa a ser usado em seu cotidiano como ferramenta política, no sentido de promover a mobilização social e consequentemente as mudanças. 

Assim, penso que participar de um processo educacional e promover o conhecimento historicamente construído pela humanidade, pode ser um primeiro passo para a construção de uma visão de mundo mais crítica e participativa. Como professor universitário, desejo dar minha parcela de contribuição ao utilizar os conhecimentos construídos em minha prática pedagógica em sala de aula, pois trabalho diretamente com a formação de futuros docentes, os quais por sua vez podem ser multiplicadores deste conhecimento mais elaborado e crítico. Como afirmou Francis Bacon: "Saber é poder"! E certamente o conhecimento construído sobre as bases da educação é um dos passos para a prática de uma cidadania mais crítica e participativa, permitindo para muitos a superação da condição de meros súditos.

A incipiente democracia brasileira precisa ser aprendida e praticada pelos cidadãos. A grande massa em nosso país ainda vive como súdito, pensa como súdito e não têm plena consciência de seus direitos e deveres. Ora, o súdito subordina o seu pensamento, os seus sonhos e a sua própria vida, em detrimento de sua felicidade e bem estar. O processo de libertação do pensamento subordinado e fundado no senso comum só pode ser alcançado via educação. Essa libertação, lembrando a alegoria da caverna de Platão, não é algo indolor a nível cognitivo, pois bate de frente com dogmas, valores, tradições e preconceitos aprendidos. 

Todavia, não se trata de qualquer educação, e muito menos de qualquer educador. Há educadores comprometidos e há mercenários da educação. Portanto, penso que, como dizia Paulo Freire, "somos seres da transformação e não da estagnação", ou seja, se de fato sonhamos, e sonhar é utopia, e a utopia nos dá esperança, então é porque somos capazes de acreditar em mudança de mentalidade, de pensamento. Como dizia Sócrates: "aquele que deseja mudar o mundo, deve primeiro, mudar a si mesmo". A desconstrução e a constante reconstrução do pensamento só podem ocorrer dentro de um processo dialético, contemplando as diferenças e a multiculturalidade presente neste tempo histórico e social. Ao participar deste processo educacional como um projeto político e civilizatório para todos, faz-se necessário uma abordagem pedagógica sócio histórica e uma concepção histórico-social de ser humano. 

A concepção metafísica de ser humano, bem como a concepção naturalista ou cientificista são excludentes, pois objetivam a uniformidade onde há diversidade, além de fragmentar e diluir o todo. Penso que os movimentos sociais legítimos e a participação da sociedade no controle social das ações do Estado só serão difundidos e praticados pela grande massa deste país quando a educação der um salto de qualidade. Não basta apenas mais verba pública, faz-se necessário um projeto que contemple o todo, desde a formação do professor até as questões ligadas a infraestrutura, salário, recursos didático-metodológicos, acesso as tecnologias e reformulação do espaço escolar. Porque um dos problemas que atinge a educação hoje é que há uma verdadeira disritmia entre o que ocorre dentro da escola e o que ocorre na sociedade. 

Assim, na educação ainda temos um modelo medieval, com formatação medieval e o que é pior, com mentalidade medieval. Desta maneira, penso que o desafio de multiplicar o conhecimento construído historicamente pela humanidade não está apenas limitado ao entendimento teórico. Contudo, por meio de uma educação libertadora, lembrando a filosofia da libertação de Enrique Dussel, mantenho a grande utopia de um país escolarizado, alfabetizado e letrado, com pensamento próprio e não apenas como um mero refletor do pensamento acabado daqueles que detém o poder político, econômico e cultural. Particularmente não sou a favor de extremos, os extremos são sempre perniciosos e perigosos, mesmo que sejam aparentemente positivos. Como dizia Aristóteles: "A virtude (ética) nunca é encontrada nos extremos, mas no meio termo, no equilíbrio". Esta ética aristotélica do meio termo é fundamental para a tomada de decisões mais bem fundamentadas e legítimas. Pois afinal, o principal objetivo da ética é o bem, individual (para si) e coletivo (para os demais). 

O fato da sala de aula poder ser um espaço democrático é importante para a educação, pois o professor tem autoridade de cátedra, e pode, se assim o desejar e se estiver preparado, questionar o status quo social, ou, se for o caso, ser um mero reprodutor das ideologias da classe dominante. A educação, como um prática laica, é arma de combate social, é alimento e combustível para o pensamento crítico e para uma atitude mais cidadã de transformação social. Embora a constituição estabeleça a separação entre Igreja e Estado, o que presenciamos na prática é uma continuação de interesses ideológicos e religiosos que muitas vezes subjugam o pensamento autêntico. Marx diria que a religião como instrumento ideológico é o ópio do povo. 

Há dois lados nesta questão, o primeiro faz referência a uma crítica da religião como alienadora, o outro lado é positivo, uma vez que o ópio na época de Marx servia também como remédio anestésico, a religião é necessária para a cura da alma. O que não dá para admitir é a pessoa usar apenas o mito e os dogmas como leitura de mundo e da realidade. Há outras formas de abordagem do real, dentre elas cito a arte, a filosofia e a ciência. Aí entra a educação, promovendo a atitude crítica, a atitude filosófica e a reflexão filosófica, ou seja, libertando o indivíduo da caverna. Todavia, nem todos estão prontos para sair do senso comum em direção a luz do conhecimento crítico, mesmo muitos professores. Porque, em minha opinião, mexer na zona de conforto incomoda. Aliás, a reflexão filosófica sempre incomodou os poderosos, por essa razão não é por acaso que em regimes políticos totalitários a filosofia a a arte são banidos ou reprimidos.

Todo processo educativo que se preze busca a autonomia do indivíduo. Essa autonomia envolve aspectos morais e intelectuais. Porque o objetivo da verdadeira educação é educar para a liberdade. Volto a pensar na questão dos extremos. Em relação a liberdade há dois extremos. De um lado temos aqueles que acreditam que não pode haver liberdade, pois estamos entregues a um certo determinismo, então para que buscá-la? Estes vivem pelo princípio da hetoronomia (norma ou lei que vem de fora, que é imposta). Do outro lado há aqueles que defendem a tese da liberdade absoluta, plena e sem limites. Conduzem a educação e seus processos dentro do princípio da anomia (ausência de normas ou leis). Lembrando novamente a ética aristotélica do meio termo, podemos concluir que estes dois pólos não são o ideal na busca pela construção da liberdade. Então onde está a virtude? Primeiro, penso, devemos entender a liberdade como uma busca constante que se dá no contexto histórico-social onde cada indivíduo está inserido. A liberdade não está pronta e acabada. Ela precisa ser construída dentro de um processo dialético. O sujeito como ente social desempenha o papel de ator e autor de sua própria liberdade. Essa busca está fundamentada no princípio da autonomia (aquele que dá a si mesmo as próprias leis). Entendendo que a palavra "nomia" em grego significa lei. Então, para Kant, há um imperativo categórico no sentido moral que me impõe os limites éticos e morais de minhas ações como ser livre ou em busca da liberdade. 

Ou seja, a verdadeira liberdade está norteada pela ética. Na concepção de Platão o objetivo final da ética é atingir o bem, primeiramente para si e depois para os demais. Sempre que falhamos em atingir o bem, falhamos com a ética. Assim, educar para a liberdade envolve a construção da liberdade como uma busca utópica. Ora, a utopia não é de todo negativa, aliás, ela é o combustível para os nossos sonhos e alimenta as nossas esperanças. Deste modo, educar para a liberdade significa construir a autonomia no ser, embora devamos considerar que este não é um processo pontual, para ocorrer num dado momento da vida, mas é um processo contínuo. Talvez no dia da nossa morte descubramos que nunca fomos livres de fato. Então, a educação para a autonomia envolve o distanciamento da heteronomia, ou seja, significa construir a liberdade transportando o indivíduo dos princípios da anomia e da heteronomia para o princípio da autonomia moral, ética e intelectual. Pensando nisso como uma breve fundamentação teórica, acredito que dentro de um contexto democrático recente, a educação no Brasil está passando de um extremo (heteronomia) para outro (anomia). 

No sentido moral e ético isso é muito grave, pois, se não tivéssemos outra opção, a escolha preferível entre um extremo e outro seria a heteronomia (princípio de condução moral próprio de um regime político autoritário). Contudo, como vivemos em um Estado democrático e de direitos, estes dois extremos são inapropriados, cabendo apenas a opção da busca pela autonomia. Como vivemos numa fase histórica de mudança de paradigma na educação, onde a escola tradicional convive com as propostas relativamente recentes da escola nova, o desafio maior está na formação continuada dos docentes. Mudar a concepção de homem, de sociedade e de educação não é uma tarefa tão simples quanto parece, pois temos sobre nós o peso da tradição educacional construída por mais de dois milênios. 

Pessoalmente acredito que isso só é possível pela desconstrução de uma mentalidade arcaica e medieval que permeia o imaginário popular e o inconsciente coletivo dos profissionais da educação. Esse é um processo dialético contínuo e de amadurecimento humano, pois os professores precisam aprender a discutir idéias sem levar para o lado pessoal. Deste modo, posso ponderar que um dos principais entraves para a qualidade na educação é a má qualidade na formação docente. Muitas vezes o problema não é o aluno, aliás, na grande maioria dos casos não é, então de quem é a responsabilidade maior? Não hesito em responder que é do professor. Enquanto os professores tiverem uma concepção metafísica e cientificista do ser humano eles terão uma concepção uniformista e fragmentada da educação. É justamente por conta destas concepções tradicionais que há exclusão, segregação, discriminação e preconceito em sala de aula por parte dos professores. Não conseguem, por conta disso, contemplar as inteligências múltiplas, as diferenças e a diversidade. 

Por conta destas concepções abusam do poder que lhes é dado e se tornam autoritários, perdendo a autoridade como mestres de um ofício artesanal. Perdem com isso a dimensão do humano no ser e praticam a pedagogia do terror, tornando-se assim terroristas da educação, mercenários que trabalham apenas pelo salário, verdadeiros destruidores de talentos e sonhos, ladrões da alma infanto-juvenil, finalmente, um verdadeiro perigo para a sociedade.

A autonomia ética e moral é uma busca contínua e sem fim, a qual se dá dentro de um processo dialético e inserido num contexto histórico-social de diversidade cultural e pluralismo axiológico. Saber conviver com o diferente é o maior desafio no universo multicultural no qual estamos inseridos. Há tantas morais quantas são os grupos sociais. Consequentemente há escalas de valores e interesses conflitantes. Este cenário moral de diversidade é importante para a educação e para o educador, pois não permite que a pedagogia se torne dogmática e que a sala de aula se transforme em um espaço de abuso ditatorial. Contudo, como pensava Emmanuel Lévinas, não há lugar na sociedade plural para qualquer fundamentação ética, é imperativo resgatar a proposta da ética da alteridade como filosofia primeira, mesmo antes da ontologia. O capitalismo faz uso de uma "ética" utilitarista (onde os fins justificam os meios). 

Como educadores temos que ter o cuidado para não cairmos apenas no "discurso ético", pois para a grande maioria dos nossos alunos ainda somos referência. Deste modo, podemos entender a ética como uma encarnação e não apenas como discurso. Pois todo educador é professor de moral, tenha consciência disso ou não. Há um "discurso" ético e moral subentendido em nossas práticas. A moral se revela de maneira mais clara para os alunos no currículo oculto da escola. Portanto, ninguém é neutro quando faz educação. 

Cada educador precisa ter consciência da sua influência quando atua em sala de aula e dentro da escola. Precisa sempre estar questionando a sua prática em três eixos básicos: 1. Que tipo de homem desejo formar? 2. Com que tipo de educação? 3. E para qual sociedade? Penso que ao educar, o professor deveria almejar a construção de um sujeito autônomo, reflexivo e crítico, utilizando-se da sua influência e de uma educação libertadora para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária, cidadã e fraterna.

DEMÓCRITO E PARMÊNIDES


Por: Jorge Schemes

Trabalhar com a disciplina de filosofia com alunos do Ensino Médio tem aspectos significativos, mas também apresenta algumas dificuldades a serem superadas pelo professor. Partindo deste pressuposto surgem alguns questionamentos, ou seja: 1. Como levar os alunos a demonstrar interesse por essa área do conhecimento? 2. Como fazer com que a filosofia não seja apenas mais uma disciplina a ser estudada? 3. Como levar os alunos a desenvolver uma atitude filosófica e crítica diante da própria filosofia? 4. Como incentivá-los a filosofar e não apenas aprender sobre filosofia apenas numa perspectiva conteudista?

Em minha prática pedagógica desafiei meus alunos a pensar na filosofia, antes de mais nada. Pensar apenas. Sem exigir um conteúdo específico. Levei-os até a biblioteca da faculdade e convidei a todos para entrar em contado com a literatura filosófica disponível. Defini alguns filósofos previamente, e fiz um sorteio entre os alunos. O desafio seria encontrar na literatura filosófica informações sobre a vida do filósofo (biografia) e seu pensamento filosófico (filosofia). Não exigi quantidade, mas qualidade e objetividade. Foram três saídas à biblioteca. Percebi que houve, de maneira geral, um despertar para o assunto. Inclusive alguns começaram a ler sobre outros assuntos ligados a filosofia. O contato com os livros foi muito positivo. 

Depois permiti que completassem a pesquisa buscando informações na internet. Após organizar a coleta de dados, os alunos foram desafiados a apresentar o resultado da sua pesquisa em sala de aula. A apresentação foi muito espontânea, dando prioridade para aqueles que já estavam mais bem preparados. Na primeira aula, tivemos a apresentação sobre as ideias de Demócrito e Parmênides. Enquanto apresentavam a pesquisa, mesmo fazendo leituras em determinados momentos, desafiei os alunos a pensarem no significado do que estavam dizendo e ouvindo. No início as participações em forma de debate de ideias foram tímidas, todavia, o andamento da aula começou a mudar pouco a pouco, na mesma proporção em que os alunos foram percebendo que poderiam expressar suas opiniões sem medo de serem criticados ou ridicularizados. 

Após cada participação procurei estimular mais ainda o pensamento crítico usando o método socrático da maiêutica. Uma aula foi pouco para discutir as ideias de Demócrito e Parmênides. Todavia, gostaria de destacar alguns pontos relevantes do debate. Ao serem apresentadas algumas ideias de Demócrito (da escola atomista), alguns alunos ficaram surpresos com o fato deste filósofo ter chegado a ideia e concepção de átomo sem nenhum aparato tecnológico. Também ficaram "espantados" com o fato de que as ideias de Demócrito perduraram na cultura ocidental por mais de 2.500 anos chegando até os nossos dias. 

Ao apresentar o contexto mítico no qual ocorreu tal elaboração filosófica, os alunos perceberam a validade da filosofia grega como uma forma de pensamento sistematizado e reflexivo. As ideias de Parmênides sobre o ser e o não-ser, sobre a impossibilidade do movimento (o movimento como uma ilusão) e sobre o ser uno, eterno e imutável (concepção metafísica), também geraram um debate interessante. Dentre as ideias que afloraram estava a que defendia a existência de universos paralelos como possibilidades da realidade. A discussão passou pelas teorias da física quântica sobre o tempo e o espaço. 

Falamos também da concepção de Deus dentro da perspectiva da metafísica proposta por Parmênides. Acabamos aquela aula nos perguntando: "mas afinal, o que é a realidade?" Os alunos também puderam perceber que, o pensamento de Parmênides sobre a imobilidade do ser e ausência de movimento, quando confrontado com o pensamento de Heráclito (fluxo constante de todas as coisas), cria um princípio de debate de ideias denominado dialética. E mais, que a contribuição de Parmênides para o pensamento filosófico ocidental pode ser sentida no cotidiano, por meio das afirmações que fazemos e que têm como fundamento a metafísica. De qualquer forma, pude perceber que meus alunos do Ensino Médio estão começando a libertar o pensamento, e consequentemente, descobrindo o mundo da filosofia.

OFENSA MORAL EM SALA DE AULA E O QUE PRECONIZA O ECA NOS ARTIGOS 17, 18 e 53


Por: Jorge Schemes

Como educador sempre me pergunto: "quais são as dimensões relacionadas com a prática pedagógica e as questões ligadas a atos de indisciplina e incivilidade, bem como a atos infracionais cometidos por criança e adolescente no ambiente escolar?" Muitos pseudo-educadores, os quais eu costumo denominar de "mercenários da educação", não estão nem aí, não dão a mínima para o que seus alunos pensam e muito menos para o que eles sentem durante o processo de "transmissão do conhecimento". Porque para estes mercenários, o que deveria ser um processo de ensino e aprendizagem acaba caindo na mesmice do ensino tradicional, o qual reduz o que deveria ser uma construção significativa do conhecimento para uma mera "transmissão de informações" descontextualizadas da vida dos alunos, e consequentemente sem relevância para eles e sem significado. 

Ora, se algo é sem significado para mim eu não me interesso, e se eu não me interesso eu não quero aprender. Essa é a lógica de uma pseudo-educação irracional e destituída de reflexão filosófica. Todavia, o que gostaria de analisar hoje, trata-se de uma experiência que ocorreu durante essa semana em uma das escolas da rede pública. O episódio envolveu um aluno do ensino médio com a idade de 16 anos e uma professora de carreira. Fatos dessa natureza são relativamente comuns, infelizmente. Durante uma aula, a professora ouviu deste aluno vários impropérios, palavras de baixo calão, ou seja, foi difamada, injuriada e caluniada diante dos demais alunos. Os motivos não foram de graça. 

Todavia, o que pretendo discutir com os fatos ocorridos está relacionado com os artigos 17, 18 e 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Após o ocorrido, as medidas e sanções tomadas pela escola e pela professora foram as seguintes: 1. Advertência ao aluno e suspensão das aulas por três dias. 2. A professora abriu um Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia da Mulher da Criança e do Adolescente. 3. A direção queria que o aluno pedisse desculpas diante de toda a escola, e não apenas diante da classe onde ocorreu o fato.

No dia seguinte ao fato ocorrido, o aluno ainda não tinha recebido as sansões por parte da direção e foi para a escola assistir as aulas. Ao chegar lá, foi impedido de entrar na escola e ouviu o seguinte da diretora auxiliar: _ "Você está suspenso das aulas por três dias. Prepare-se, porque nestes três dias os professores farão atividades, trabalhos e provas para te prejudicar nas notas...se eu fosse você procuraria outra escola". Sinceramente, isso é inadmissível, pois trata-se de uma pedagogia do terror, medieval e ultrapassada. isso revela o lado obscuro daqueles que pensam ser educadores, mas na realidade são os detentores de um autoritarismo doentio. O garoto, embora, de fato, tenha errado e cometido um ato infracional, não poderia ser excluído do processo de ensino e aprendizagem. A escola precisa rever as sanções aplicadas aos alunos em caso de indisciplina e ato infracional. Primeiramente se faz necessário redimensionar o que seja de fato indisciplina e o que é caracterizado como ato infracional. As sanções aplicadas em casos de indisciplina devem ser unicamente de cunho pedagógico enfatizando a inclusão e nunca a lógica da exclusão. 

Mas este é um assunto para ser discutido à parte, pois está relacionado com o Plano Político Pedagógico e a elaboração do Regimento Escolar. A medida tomada pela professora de abrir um BO não está de todo errada, pois de fato ela foi ofendida em sua honra e moral na frente dos demais colegas, e como cidadã, está dentro de seus direitos legais. Embora, na minha opinião, o melhor caminho para a resolução de conflitos em sala de aula e dentro da escola seja a mediação escolar. Com relação ao aluno ter que pedir desculpas, concordo plenamente, desde que os seus direitos enquanto sujeito de direitos sejam assegurados conforme preconiza o ECA nos artigos 17 e 18. 

Portanto, a intenção de fazê-lo pedir perdão à professora na frente de toda a escola está diretamente contra a garantia de seus direitos e trata-se novamente de uma pedagogia norteada pelo terror antipedagógico. Este episódio nos faz refletir se de fato estamos comprometidos com a educação, enquanto ferramenta indispensável para a construção da liberdade, da autonomia moral e intelectual e da verdadeira cidadania. Construir-se como educador é um processo dialético e reflexivo. Também diria que a educação continuada do docente enquanto educador se faz nas dimensões passado-presente-futuro, envolvendo sólida fundamentação filosófica como sustentação teórica para sua prática, a qual deve ser uma práxis contínua, ou seja: ação-reflexão-ação. Quanto mais consistente for a fundamentação teórica, mais intencionalidade haverá na ação pedagógica. Por outro lado, quando menos fundamentado estiver o professor, menos intencionalidade haverá em suas práticas educativas. Para os mercenários da educação o caminho do autoritarismo e da prática da pedagogia do terror parece o caminho mais fácil, todavia, este é o caminho de uma pseudo-educação, destituída de comprometimento ético e moral com o humano no ser.